quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quem foi, afinal, este tal Ruy Barbosa?

André Luiz Renato
Historiador

Rui Barbosa foi praticamente um “Forrest Gump” do seu tempo: no período em que viveu esteve imerso nas mais importantes lutas sociais, participou ativamente do processo político, se meteu em refregas literárias, estéticas e econômicas, trocou farpas com uns e foi celebrado por outros.

Viu desfilarem no “bonde da história” a Guerra de Canudos, a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República, o Neo-colonialismo na África, a Belle-epoque Européia e a Primeira Guerra Mundial. Republicano e abolicionista convicto, foi um cara “antenado” com as questões progressistas do seu tempo. Ministro de Estado, mentor da Constituição Republicana, fundador da Academia Brasileira de Letras, conviveu e quiçá farreou com Machado, Castro Alves e Anattole France.

Político, jurista, escritor, filólogo, tradutor e orador de mão cheia, foi como diplomata que Rui lavou a alma do Brasil, tal qual os craques da Copa de 58, mostrando ao mundo que superamos nosso complexo de “vira-latas” e de “República de bananas.” Em 1907 foi à Conferência de Haia, onde ocorreu a sua consagração. Bacharéis do mundo inteiro se embasbacaram com aquele homem que falava inglês, francês, alemão e espanhol com a mesma naturalidade e elegância. Saiu de lá com a fama de “Águia de Haia.”

Pelo seu excesso de preciosismo na língua, é hoje considerado até meio prolixo. Ocorre que escrevia como os homens do seu tempo, muito ligados ao classicismo, alheios ao que hoje se chama de “brasilidade.”

Sua prosa obedece ao rigor da língua portuguesa, mantendo a tradição de grandes estilistas como Eça de Queiroz e Fernando Pessoa.

O Brasil ainda hoje procura conciliar a língua das ruas com a língua das academias e parlamentos,
sem muito sucesso. Esses dois “Brasis” muitas vezes se chocam, com o incauto e iletrado cidadão no meio. Se por um lado ele está em situação complicada em face de uma realidade adversa, por outro ele ta é ferrado mesmo.

Como disse Luís Augusto Fischer em Literatura Brasileira: Modos de Usar (LPM, 2007): “A descoberta de uma língua em que seja possível expressar-se está no miolo de um problema mais amplo, de um tormento igualmente típico de um país colonizado: a busca por traços que singularizem a vida desse país, que destaquem sua existência contra o fundo genérico das outras nações, muito especialmente que contrastem o novo do jovem país em relação ao velho país, a antiga metrópole.”

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